
Meu jovem
Assentado por entre montanhas de telhas,
vejo passarela de coqueiros margeando seus pensamentos.
Muito claro o dia e de sombras lhe mancha.
Seus olhos, buracos negros,
antes viveram ali estrelas indeléveis,
vácuos de muitos sonhos, inalcançados, indefinidos.
Para onde seu olhar olhava?
Devia alcançar pescarias, comércios e estradas.
Assentado, no topo da escada
com canelas pontiagudas de trilhar duros caminhos.
Na juventude dos seus cabelos,
mechas onduladas revelam rebeldias.
Nem sua pose planejada oculta timidez,
pois como eu, enrosca pulsos nas mãos
tão incontrolável simular quem temos de ser.
Seu futuro era onde eu estou
e de repente quem bate essa foto sou eu.
Depois subo de novo o topo da escada,
me assento ao seu lado,
deito cabeça em ombro nu,
bem distante estou e digo ao passado:
meu jovem,
nas memórias não morremos.
Renascemos em átomos do nosso tempo.
Ao fixar o flash no filtro do infinito
captamos a lente eterna do amor
e reinventamos momentos.
Marcelle Vieira Salles
20/08/2023
Na foto, meu pai, Elson Geraldo Vieira (05/02/1935 – 20/12/1995), provavelmente na década de 1950, em Belo Horizonte, MG.